segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Enubladamente Filosofando,
como diria Eça,
sobre A Web 2.0 e a BE 2.0


Sempre considerei que as novas tecnologias poderiam dar um contributo significativo à escola, no seu todo. No entanto, a enorme dispersão de interesses e conhecimentos a que estão associadas, sobretudo no que diz respeito à utilização da web, suscita-me algumas dúvidas. Em particular sobre a capacidade dos utilizadores avaliarem os conteúdos disponibilizados. Esta avaliação acontece, na maior parte das vezes,  sem que os utilizadores disponham de bases para descodificar inteiramente os conteúdos postos à sua disposição e sem que as premissas para essa avaliação sejam devidamente clarificadas.
Correndo risco de parecer um “velho do Restelo” creio que estamos a construir um fac-simile do nosso próprio cérebro, um cérebro comunitário alternativo, sem entendermos aprofundadamente quais as repercussões desse alter-ego, no nosso próprio. Penso em particular no papel fundamental da memória, afinal todo “o conhecimento” está à distância de um click.
Recordo-me do que li há uns tempos, na secção de cultura digital do jornal Público, numa entrevista dos jornalistas Isabel Coutinho e João Pereira ao ex. Director da Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian, José Afonso Furtado. A entrevista deu-se por ocasião da publicação do seu livro – Uma cultura da informação para o universo digital. Nela o autor coloca uma série de questões pertinentes sobre a selecção, conservação e armazenamento dos inúmeros dados produzidos na web. Considera que existe "o risco de grandes empresas, com capacidade financeira para construir  grandes centros privados de dados, se sobreporem ao Estado. Defendendo por isso a necessidade de uma abordagem ética à preservação da informação digital semelhante ao que acontece com o ambiente”.
As empresas tecnológicas estão a caminho de substituir arquivos e bibliotecas em benefício dos seus próprios objectivos financeiros o que, não só poderá ser prejudicial para o consumidor, como ainda, os dados que estas empresas guardam sobre o perfil dos utilizadores implicam que “se cada um de nós fizer uma pergunta semelhante (num motor de busca), teremos resultados diferentes. É a personalização da informação. Quer dizer que, a certa altura, acabamos por estar sozinhos no nosso universo.”.
"Perceber que tipo de saberes e habilidades é que as pessoas devem ter para terem um pensamento não proletarizado face ao novo ambiente informacional. E discutir com mais profundidade a noção de literacia de informação"  são também para José Afonso Furtado, questões fundamentais. ”Uma maior literacia tecnológica não se consegue simplesmente colocando dispositivos nas salas de aula, uma biblioteca ou uma escola antes de os adquirirem têm de pensar para que os querem lá”.
“Na era digital, as biblioteca “são ainda mais necessárias, são a única maneira de ter um ambiente informacional onde se podem fazer pesquisas controladas.”
Estas reflexões que compartilho, parecem-me muito relevantes, diria fundamentais. Equaciona-las antecipadamente será indispensável, para que a utilização dos conteúdos/funcionalidades da web possa realmente fazer parte integrante da mudança evolutiva da escola e das bibliotecas, como núcleo central desta. A biblioteca escolar poderá então iniciar a “enorme tarefa” de preparar o seu público para a utilização da informação disponibilizada, fornecendo “literacias de natureza operacional, mas também acima de tudo de natureza crítica”, como refere a síntese de Web 2.0 e a BE 2.0. e com a qual estou integralmente de acordo. Ou ainda, como diz Joyce Valenza em, Things I think teacher librarians should unlearn (Twiter:@joycevalenza), desaprender “that a library is merely a place to get stuff”, aprendendo, digo eu, “That books are stuffed whith interesting information”.

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